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Sustentabilidade ganha força no mercado pet e movimenta bilhões no Brasil

Sustentabilidade ganha força no mercado pet

Sustentabilidade ganha força no mercado pet e movimenta bilhões no Brasil

Setor deve faturar R$ 78 bilhões em 2025; alimentos naturais, serviços especializados e consumo consciente refletem novo olhar sobre os animais

O mercado pet brasileiro atravessa um período de crescimento expressivo, consolidando-se como um dos mais relevantes do mundo. Mais do que números impressionantes, esse avanço vem acompanhado de uma transformação cultural: a sustentabilidade e o bem-estar animal passaram a ser protagonistas nas decisões de compra e nos serviços oferecidos.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e do Instituto Pet Brasil, em 2024 o setor movimentou entre R$ 75,4 bilhões e R$ 77,3 bilhões, registrando crescimento de até 12,6% em relação a 2023. A projeção para 2025 é ainda mais ambiciosa: R$ 78 bilhões, consolidando o Brasil como o 3º maior mercado pet do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China.

Mudança cultural e papel da sustentabilidade

A professora Claudia Moura, especialista em meio ambiente pela Universidade de São Paulo (USP) e docente da Universidade São Judas, explica que a percepção sobre os animais mudou radicalmente nos últimos anos.

“Hoje, um pet é considerado membro da família. Esse novo olhar tem estimulado desde a criação de creches e hotéis até adaptações em restaurantes, shoppings e hotéis tradicionais para recebê-los”, destaca.

Essa mudança de mentalidade também se reflete na forma como os tutores escolhem os produtos que levam para casa. O consumidor atual exige alimentos mais saudáveis, brinquedos seguros e acessórios produzidos de maneira ética, muitas vezes priorizando marcas que adotam práticas sustentáveis.

Alimentação natural e novos serviços

O setor de alimentação industrializada (pet food) continua sendo o mais representativo, responsável por cerca de 55% do faturamento total em 2024, o equivalente a R$ 42,3 bilhões. No entanto, outros segmentos vêm apresentando forte expansão:

  • Serviços veterinários movimentaram R$ 7,6 bilhões.
  • Produtos veterinários chegaram a R$ 8 bilhões.
  • Venda de animais por criadores somou R$ 8,1 bilhões.
  • Pet care e acessórios atingiram cerca de R$ 11 bilhões.

Esse avanço está diretamente ligado à busca por alimentos naturais, livres de conservantes artificiais, bem como pela procura por brinquedos sem componentes tóxicos, roupas confortáveis e até acessórios feitos com materiais reciclados ou biodegradáveis.

“Ética, inovação e a busca por produtos mais saudáveis para os pets vêm impulsionando um nicho de mercado em plena expansão”, afirma Claudia.

Impacto da pandemia e consciência ambiental

Outro fator que acelerou esse movimento foi a pandemia da Covid-19. O isolamento social estimulou a adoção de milhões de animais, ao mesmo tempo em que reforçou a conexão emocional entre tutores e seus pets.

“Vivemos ainda um contexto pandêmico, mas com sinais de recuperação. Esse período intensificou o vínculo entre pessoas e seus animais e trouxe reflexões sobre o planeta, que já dá claros sinais das consequências da intervenção humana”, ressalta a especialista.

O impacto ambiental, antes negligenciado, passou a ser pauta central. Questões como o fim de testes em animais pela indústria farmacêutica, o uso responsável de recursos naturais e o consumo consciente ganharam destaque no setor.

Desafios estruturais

Apesar dos números positivos, o mercado pet brasileiro enfrenta obstáculos importantes. O principal deles é a alta carga tributária. De acordo com a Abinpet, para cada R$ 1 gasto em pet food, R$ 0,50 são destinados a impostos — percentual muito acima de países como Estados Unidos (7%) e Europa (18%).

Esse peso fiscal reduz a competitividade das empresas nacionais e limita a democratização do acesso a produtos mais saudáveis e sustentáveis. Mesmo assim, a expectativa é que o setor continue crescendo, ultrapassando os R$ 80 bilhões em 2026, puxado por serviços veterinários, inovação em alimentos e maior demanda por produtos eco-friendly.

Força das pequenas e médias empresas

Um dado relevante é que pequenas e médias empresas permanecem como os principais motores do varejo pet. Elas representam quase metade das vendas em canais físicos e se destacam pela capacidade de inovar rapidamente, lançando produtos personalizados e próximos das novas demandas do consumidor.

Muitos desses negócios têm como diferencial justamente a sustentabilidade, seja na escolha de fornecedores, na embalagem reciclável, na redução de impacto ambiental ou no investimento em energia limpa para produção.

O Brasil no ranking global

O desempenho nacional chama atenção no cenário internacional. Em apenas duas décadas, o Brasil saltou de um mercado emergente para ocupar a 3ª posição no ranking global de faturamento pet. Essa consolidação reflete não apenas a dimensão do país, mas também a paixão dos brasileiros por seus animais de estimação.

Com uma população estimada em mais de 150 milhões de pets, segundo o Instituto Pet Brasil, o país tem um terreno fértil para novos produtos e serviços. E, cada vez mais, esse crescimento virá acompanhado de responsabilidade ambiental e social.

Futuro do mercado pet sustentável

As tendências apontam para uma consolidação definitiva da sustentabilidade como pilar estratégico. Entre os principais movimentos previstos para os próximos anos, estão:

  • Maior oferta de alimentação natural e orgânica.
  • Expansão de planos de saúde pet, tornando o cuidado veterinário mais acessível.
  • Produtos com embalagens recicláveis e biodegradáveis.
  • Digitalização de serviços, como consultas online e aplicativos de gestão para tutores.
  • Crescente adesão de marcas ao conceito de pegada de carbono neutra.

Para Claudia Moura, o avanço desse segmento reflete uma mudança mais ampla. “Esse novo cenário não mostra apenas a transformação do consumo, mas também uma mudança cultural: os pets deixaram de ser apenas animais de estimação e passaram a ocupar um espaço de afeto, cuidado e responsabilidade ambiental”, conclui.

O mercado pet brasileiro está diante de uma oportunidade única: conciliar crescimento econômico, inovação e sustentabilidade. Com consumidores cada vez mais atentos ao impacto de suas escolhas, as empresas que conseguirem unir qualidade, ética e responsabilidade ambiental terão um espaço privilegiado nesse setor bilionário.

Mais do que números, o futuro do mercado pet revela uma sociedade em transformação — onde o cuidado com os animais caminha lado a lado com a preservação do planeta.

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Esta matéria é um oferecimento DogTrip